terça-feira, 24 de setembro de 2013

#naoescrevonaoescrevo





#naoescrevonaoescrevo


Porque o momento de escrever é o mais puro, o mais importante: lá ta toda a sua pureza, vaidade e exibicionismo. É como você tirar sua alma e pendurar no varal no meio da multidão. Quando a pessoa escreve uma lista de compras ou deixa um bilhete tipo “fui na padaria” ela tá fazendo uma coisa mística, tenho certeza disso. E o pior é que não escrevo nada há mais de um ano, to naquela porra daquela fase de bloqueio criativo. Depois daquele último conto que você leu não escrevi mais nada, lembra há quanto tempo foi isso? É talvez porque eu tenha entrado numa espiral tão desconcertante de mutação e auto desconhecimento que tudo o que escrevo no segundo seguinte já não faz mais sentido, as coisas mudam depressa demais. Se sentasse pra escrever hoje meus temas seriam: a asfixia e a ejaculação precoce. O sono picotado, a taquicardia. O pulmão carcomido. Tenho vinte e cinco anos e fumo duas carteiras de cigarro por dia desde os quinze anos. Mas aí eu fico pensando: por exemplo eu tava lá lendo o garcia marquez e refletindo: como é que o cara me consegue escrever uma porra de uma saga de trocentas gerações com mil e setecentos personagens durante quatrocentas páginas mantendo um único estilo? Eu já escrevi como philip toth, como kerouac, como o próprio garcia marquez e até como eu mesmo o eu mesmo sendo a antropofagia desses caras todos e mais uma fagulha que vem de dentro e é totalmente imprevisível e aleatória. Beleza. Não tenho nem quero ter um estilo até os quarenta, um estilo a gente não pode aprender cedo, tem que atirar pra todos os lados até acertar em alguma coisa que valha a pena. Acho que perdi o ritmo, que nunca mais vou voltar a escrever, eu sento e não consigo, não consigo, tudo que eu penso eu despenso um segundo depois, é só descontinuidade, eu sou a cobaia do stuart hall, a prova que o pós modernismo deu certo, eu não tenho pátria nem família nem religião nem ideologia nem time e nem certeza de nada, e ainda tem o revival do brega, ainda tem a britney spears, a indústria cultural chinesa, e tem a internet, e os escritores que publicam na internet além dos escritores que publicam livros, setecentos milhões por anos, no mundo inteiro, livros que fazem referência a outros livros, é muita coisa pra minha cabeça, não entendo nada e apesar de tudo sou um intelectual e um cara letrado, leio mais que a maioria – mas sinceramente eu sou um escritor que vale a pena ser lido, eu leria as coisas que escrevo?, é a pergunta que me faço e aí não escrevo, não escrevo

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