terça-feira, 24 de setembro de 2013

#nuncaviumvelhotaofeliz






#nuncaviumvelhotaofeliz

Os caras tavam mocados na delegacia da cidadezinha, mas a população gritava: lincha, lincha!, mata, mata! Não lembro exatamente qual foi a barbaridade que fizeram. Eram três bandidos. Acho que entraram numa casa, mataram a família inteira, criança no meio, torturaram, cortaram uns pedaços fora, tocaram fogo, tomaram todo uísque da casa e antes de matar estupraram as mulheres. Algo do tipo. Uma barbaridade bem escrota. No dia seguinte foram pegos pela polícia estadual num sitiozinho acendendo charuto em nota de cem, que nem filme americano. Acho que em circunstâncias normais a polícia já teria apagado os caras ali mesmo, mas já tinha chegado imprensa na cidade, por isso seguraram a onda. De modo que levaram os elementos pra delegacia, mas veio gente de todos os municípios vizinhos pra linchar e fazer justiça. A praça foi ficando lotada. Até que invadiram – não houve lá muita resistência - e os levaram pro centro da praça. Foi tudo filmado. Os linchadores faziam pose na frente da câmera, orgulhosos. Esfolaram os três, quebraram todos os ossos, mas não mataram. Ficou só uma massa de carne, um em cima do outro. Ai veio o grande final. Um velhinho – bem velhinho mesmo, devia ter uns noventa anos, mal conseguia andar – veio se arrastando, devagarzinho, com um litro de querosene na mão. Não conseguia nem levantar o galão e tiveram que ajudá-lo. Depois, tremendo, riscou o fósforo e tacou fogo em cima deles. Nunca vi um velho tão feliz. De repente ele começou a querer dançar. E ria, e ria!, achando uma graça imensa na fogueira

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