quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

#umprofeta

#DDD
#umprofeta

Mal viro de lado dou de cara com Henriquinho da Miséria, que não vejo há mais de quinze anos, mas o burburinho na festa é tanto que mal consigo ouvir o que ele diz, e ainda tenho que entregar essa caipirinha pra Lara:
“... juro que vi pontes de concreto oscilando. O vento que batia era tão forte, mas tão forte, que as pontes oscilavam, os prédios tremiam, as ruas se abriam e engoliam as pessoas... já ouviu falar na cidade perdida de Zanzibar, do El dorado, da cidade de ouro no coração da selva...?”
“Mesmo?”
“Sim, e os extraterrestres, naturalmente! Inclusive preciso ler aquele seu ensaio sobre a ficção científica nos anos 60. Ando lendo muita coisa diferente hoje em dia, uns antropólogos bem lado-b, literatura africana, hinduísmo cyber-punk. Inclusive queria te perguntar, qual é mesmo o nome do cara que escreveu Stranger In A Strange Land...”
“Robert Heilen.”
“Isso, exatamente. Ouvi dizer que as ilações e as inferências que ele faz com o direito internacional aero espacial são muito engenhosas e mostram como toda legislação não deixa de ser uma espécie de ficção, me corrija se eu estiver errado. Não li o livro mas uma resenha muito interessante na Bravo, que também traçava o perfil político (baita reaça) e psicológico de Heilen.... assim como o K. Dick, esse caras que primeiro piraram na tecnologia como matriz e argumento estavam criptografando o século XX, particularmente o boom capitalista do pós-guerra, o fascínio com os satélites, os computadores... olhe, olhe só pra isso”
E tira do bolso um celular.
“Tem tela de carbono ultra fino e capta oscilações espirituais e eletromagnéticas.... sabia que há um profeta aqui hoje?”
“Hã?”
“O Jamanta, Jamanta, vem cá, em cá...”
Jamanta chega trombando em todo mundo e derruba dois dedos da caipirinha que tenho que entregar pra Lara.
“Conta aí do profeta, o profeta que vai promover o ritual do solstício...”
“Olha, na verdade tenho que levar essa caipirinha ali pra...”
“Tu não sabe do profeta?” berra Jamanta, “não sabe do que ta rolando? Quem você acha que ta bancando essa festa?”
“Não sei. Não é aniversário de uma tal de Robertinha?”
“Criança inocente, tu não sabe mesmo de nada? Gado indo pro matadouro! Peão! Bucha de canhão! Hahaha! Cu de bêbado não tem dono!”
“Conta pra ele do Alexander Rockeihemmer.”
“Sim, ele! Já ouviu falar em Alexander Rockeineimer?”
“Não.”
“Suponhamos apenas que ele tenha sido um cara que viveu no Brasil entre 1616 e 1756, o que dá cento e cinqüenta anos.”
“Sim, como os personagens bíblicos! Há relação entre os gigantes degenerados da segunda derrocada da lua sobre a terra e as alegorias e invencionices das sagradas escrituras, principalmente da parte védica do antigo testamento.”
“E suponhamos que esse cara tenha sido traficante de escravos, agitador político sedicioso, bruxo e alquimista e suponhamos também que ele tenha erguido um castelo lá bem no meio da Amazônia. Suponhamos, apenas suponhamos, que ele não era humano...”
“Cala a boca, Jamanta” diz um sujeito que chega do nada: “Tu fala pra caralho, hein!”
“Olha, vou indo que preciso entregar essa caipirinha pra...”
“Falo! Falo e evoco terceiro postulado de Hocheimhemmer: “o conhecimento deve ser espalhado, mesmo entre burros e os néscios.”
“Olha, ele ta te chamando de burro e de néscio...”
“Não importa, vou indo que preciso...”
“Agora diga, sem meias palavras, de homem pra homem. Você se julgaria apto a participar de uma sociedade secreta que compartilha segredos milenares?”
“Olha, até que sim, mas...”
“E se um dia um sujeito tocasse o seu ombro por trás e propusesse uma tarefa aparentemente estapafúrdia? Será que saberia captar a mensagem? ´Ah, estão me testando, vou fazer o que me mandarem pra subir o primeiro degrau da pirâmide`.”
“Até que pode ser, mas agora...”
“É preciso perspicácia e discernimento. E de resto quem seria tolo a ponto de abdicar do conhecimento? De saber que há um instrumental prático e teórico pronto pra ser deflorado e ainda assim permanecer inerte? É claro que quando e se o contato acontecer, será por um bom motivo: quer dizer que foi escolhido, pode tentar tornar-se um deles.”
“Um dos nossos” diz Jamanta.
“Mas que somos nós?” pergunta Henriquinho da Miséria, “quer dizer, um dia um cara chegou pra mim e disse: você pode dirigir esse caminhão até São José do Rio Preto e entregá-lo para tal pessoa em tal endereço? Me deu as chaves de um caminhão que estava logo ali na esquina. Dirigi até lá, voltei de ônibus, e nada. Quase um ano depois chega uma carta muito estranha lá em casa, dizendo que eu tinha ganho numa promoção um fim de semana no Guarujá.”
“Já leu Borges? Já ouviu falar na loteria da Babilônia?”
“A grande conspiração é que não existem conspirações, já disse o profeta certa vez sob um tronco de carvalho, às margens do rio Ganges...”
“O profeta pode ser qualquer um. “

#33%

#DDD
#33%


Trinta e três por cento do brasil, que não votam no PT de jeito nenhum, mais os outros trinta e três, que votam quase incodicionalmente, obram e engendram um monopólio cultural, um fla-flu ideológico, um pequeno instantâneo dialético no carrilhão da eternidade. Se engana porém quem julga que os outro trinta e três por cento sejam pouco relevantes ao frigir dos ovos. Os Verdes e os representantes da Terceira Via são plenamente conscientes, por exemplo, que o fisiologismo do PMDB é pernicioso às aspirações nacionais, que o aparelhamento do estado não é exatamente uma coisa-super-bacana, que talvez-quem-sabe as parcerias público privadas sejam a idéia menos equivocada diante dos problemas e desafios inerentes a vida em sociedade. Divago? Pega um Verde, um Gabeira, um Minc, um cara que você diria, sem hesitar, que é um político de vanguarda, apesar de maconheiro, e vê qual a agenda do cara. O cara não tá preocupado com a luta de classes, mas com o futuro das árvores, o que, pensando bem, é uma ótima idéia. Esses trinta e três por cento, esse um terço de gente esclarecida, não dogmática, é um terço que pesa mais. É o diferencial. Não to fazendo apologia do Partido Verde, só dizendo que ele é a alternativa política mais... hã.... como dizer... você pega um papo cabeça como a-identidade-cultural-na-pós modernidade... quando eu fumo você vê que eu falo muito né... há como negar que as identidades matriciais, as identidades fortes, foram todas estraçalhadas? Não me olhe como seu eu fosse um profeta do óbvio, mas já parou pra pensar na comida-enlatada durante um tempo, já sentou, leu, pesquisou e refletiu sobre o que é, o que significa e quais as consequências da comida enlatada... a criança hoje só conhece o vidro, o concreto, o aluminio, o conservante, não quero dar uma de oh-meu-deus-o-mundo-tá-perdido, mas só pensa, só pensa... não é que eu esteja me justificando, é aí que você tá enganado, só quero deixar claro que se falo coisas que parecem messiânicas é porque falo muito mesmo, me empolgo, vou longe. As-identidades-culturais, por exemplo. É uma coisa louca, não é? Você pensar que o cara não tem ligação com o planeta, mas com a estratosfera, o broadcasting, a tramissão via satélite em alta definição, a imagem, a internet, a publicidade, o lithium, o silício, o cigarro com quatro mil substancias químicas altamente tóxicas. Me empresta o isqueiro? Não to falando em montar uma cabana no mato, fazer uma tribo de pode-crer, ficar cantando raul seixas e caçando tatu, não to falando isso, e também, mais uma vez, faço questão de deixar claro que não to me justificando, to só propondo o seguinte: a próxima dialética não vai ser entre senhores e escravos, burgueses e proletarios, mas entre o homem e... sim... vou soar apocalítico pois é exatamente disso que se trata... O HOMEM E A NATUREZA, A ESPÉCIE E A EXTINÇÃO. Huauauauauaua! Cavernoso. Sombrio. Se todo homem é mortal e finito, se é normal e compreensível que pense ocasionalmente, ou dependendo do doente nem tão ocasionalmente, sobre sua morte, o sentido dessa porra-toda, a probabilidade de haver de fato uma vida após e morte ou de simplesmente a gente desaparecer no nada, no escuro, no esquecimento, então é normal que a sociologia de hoje trate da questão mais urgente: o fim da espécie e as possibilidades de mitigar ou retardar o inexorável. Gestão das multidões, meu amigo. Demarcação de território. Talvez, sabe. Talvez seja melhor radicalizar e privatizar a porra toda. Privatizar a água. Acabar com esse papinho de mamae-sou-legalista, de soberania nacional, de direitos humanos, direitos humanos é a minha rola. Salvem primeiro as gostosas. Não sei do direito dos outros, mas minha rola tem uma série de direitos e faço questão de exerce-los e garanti-los. Tem o direito de ser acaraciada, mimada, chupada, lambida, alimentada. Olha, vou te falar uma coisa: esse mundo de hoje tá apoplético, disfuncional, descontinuo, contraditório, tá super aquecido, tá frintando debaixo do sol. O ser humano é um bicho engraçado. Esses zé ruelas que se dizem eco-céticos, que propagam que o aquecimento global é uma mentira e um exagero dos eco-chatos, esses caras, que na verdade são correligionários dos ultra-capitalistas e colaboradores involutários do grupo de bildeberg e de outros semelhantes que jogam o jogo do mercado blobal, esse cara que se acha excentrico por ter uma-idéia-que-vai-na-contramão, esse imbecil iludido que se julga o rei-da-opinião-própria, esse desinfeliz acredita que o ser humano vem tirando há duzentos anos quinhentos bilhões de barris de petróleo por dia de dentro do planeta e que isso não vai ter consequencia nenhuma, nenhuma! Rá! Me dá seu rim, rapidinho? Vou tirar todo o meu sangue e transformar em fumaça, dizem que dá a maior onda. Calma aí, né? É fatalista, é imediatista, é urgente? É, porra. Quando o bicho começar a pegar, todos os partidos se tornarão Verdes. Como o Partido Verde de hoje tem um monte de tentáculos em ONGS e dentro da própria máquina pública, será a bola-da-vez. Aí virão os caciques, os coronéis, os mafiosos, e será só mais um. O gabeira até que é mais desconfiado, mas você pega uma marina, aquela sonsa com pose de santa, aquela abnegada protetora da natureza, ela é uma marionete. De dez filmes que lançam hoje em dia, quatro são sobre o mundo pós-apocalíptico. O mundo depois da bomba, do meteoro, do maremoto, o mundo subterraneo, no fundo dos oceanos, no espaço. Toda essa macacada que quer um lugar na arca de noé futurista tem os seus próprio interesses: são grupos. São brancos, pretos, amarelos, evangélicos, ubandistas, sindicalistas, banqueiros, bancários, acionistas, investidores, credores, devedores, seguradoras, agentes de crédito, fiscais da receita, procuradores, advogados, estelionatários, maconheiros, drogados, cientistas, astrofísicos, o caralho. E é claro que são todos interesses legítimos, mas, olha que coisa, incompatíveis, excludentes. Não tem pra todos. Se alguém ganhar é porque alguém perdeu. Se todo mundo tivesse o padrão de vida de um norte-americano médio, com dois carros, casa, cinquenta eletromésticos, computador, banda larga, como é que ficava? Se todo indiano, todo chinês, resolvesse comprar uma Land Rover? Esses sete bilhões de seres humanos, dizem os eco-céticos, são uma pulga, um pulguinha, um insetozinho insignificante na superfície da terra. Querendo, ela se livra do problema com um saculejo. Será? Pelo que conheço da praga, acho que ia ser dificil. É um bicho tinhoso, não é? Complicado. Você acha que falo muito? Pode falar. Minha visão política hoje não poderia ser mais desiludida. Sim, já fui comunista, sim, já fui neoliberal, hoje só faço piada. Sério. Também fui contra as cotas, a favor das cotas, contra os transgênicos, a favor dos transgenicos, contra a monogamia, a favor da monogamia, sempre ciente de que estava sendo hipócrita porque parcial, dogmático, e me tornei um ser vazio, cínico até os limites mas extremos do cinismo, sem acreditar numa palavra do que me dizem, sem levar a sério nada do que eu próprio digo.

#tergivesandodenovo

#DDD
#tergivesandodenovo

É como se eu tivesse acabado de vir ao mundo. Como se tivesse nascido cinco minutos atrás. Ainda não vi, não peguei, não sei como funciona. Até o ar: respirar também é uma coisa nova. Meu coração batendo, eu posso sentir, que estranho. Ele bate rápido. Mas talvez, se eu tentar lembrar. É por causa da viagem, do fuso horário. Viu? Viu como estou lembrando? O lance é não desesperar, como daquela vez. A gente sempre lembra das coisas desagradáveis. Eu tava dormindo, como agora, e acordei de repente do mesmo jeito. Fui mexer o meu corpo e: nada. Nem um dedo. O rosto paralisado. Eu inteiro parado. Claro que o primeiro pensamento que veio foi: morri. Pronto, é isso. Não estou vivo. Mas então é isso a eternidade? Uma consciência imóvel? É que vou me precipitando, pensando coisas antes da hora, mentalizando abismos intransponíveis e fatalidades assustadoras. Quanto tempo deve ter durado o desespero? Eu diria que trinta segundos, mas que pareceram quarenta e nove séculos. Só depois eu vim saber que esse tipo de experiência é comum, e que o lance é tentar manter a calma, se tiver um espírito esclarecido, se não for muito apegado ao seu corpo. Não é o meu caso.

Naquele dia eu acordei e também não sabia onde estava. Tava uma escuridão do caralho, escrota, completa. Puta que pariu. Eu tava desorientado. Era um zumbi sonâmbulo. Ergui os braços e fui tateando até achar a parede. Pra que lado, porra? Vou me esgueirando, suando frio, com taquicardia, e meto a cabeça na quina do móvel. Abre um rasgo. A testa lateja. Caralho, tá saindo sangue, que merda, que merda. Vou chorar, desse jeito. Vou sucumbir e cair no chão, morto. Não desejo pra ninguém essa porra. Porque eu também tinha acabado de vir ao mundo. É como se eu tivesse dormido e uma chuva ácida corroído toda a porra do cérebro. É um curto circuito. Tenho que confessar que tenho medo. Sou um adulto racional e equilibrado, mas sinto medo, é uma merda isso. Se eu tentar lembrar direito. Deve ter acontecido outras vezes. Na verdade um monte de vezes. Caio de cara nessa porra, que é um pouco de sonho, um pouco de morte, um pouco de desespero. Não queria isso. Era pra eu ser forte. Mas sou fraco. Tento não pensar nessas coisas, mas penso. Deve ser por causa do fuso horário.

É isso, eu tava viajando. Já é um começo. Onde? Em Xanadu, claro. Foram quantos dias? As férias inteiras! Mas quanto? Duas semanas? Três? Um mês e meio? Talvez eu tivesse morado lá dois, quem três anos. Passei tanto tempo. É que rolou uma oportunidade de emprego. Não foi? E uns flertes, não foi também? Uns flertes bem bacanas. Comece se lembrado das mulheres, que é fácil, e o pensamento vai embora. Foi uma atriz e uma... cozinheira? Me corrija se eu estiver errado, mas... tenho certeza que era uma cozinheira. Peraí, uma chefe de cozinha. De um restaurante gran fino. Vai lembrando as coisas boas da boa vida. A parte ruim a gente lembra outra hora. A história do atropelamento, etc. Não é exatamente fácil lembrar de uma história nessa circunstância. Mas vai cara, é o único jeito. Vai ficar deitado parado pensando: morri. Vai? Porra, tenta colaborar comigo. Não tem outro jeito. Quer opções? Ou ainda tá de férias em Xanadu. Ou voltou pra Xangrilá e tá na sua cama, dormindo pesadamente depois da viagem e do pileque no avião. Houve isso? Ou tá sonhando, um tipo de sonho em que a gente não sente o corpo. Não acontece um monte de coisa estranha no sonho? Só me conta: foi uma chefe de cozinha. Era um restaurante italiano da primeira avenida, não era? E o seu jantar? Você acreditaria se eu dissesse que foi a melhor refeição da minha vida? Escuta essa. O restaurante tava vazio, eu entrei, sentei no balcaozão de madeira e dei boa noite pra menina do outro lado. Um boa noite bem amigável, bem no estilo quero-te-comer-agora-ou-quando-for-possível. Perguntei se a Mitra estava, e ela disse: claro, vou chamar. Dois minutos depois, ela veio. De avental e touqinha. Da primeira vez que a beijei a gente tava sentado, bêbados, num bar. Depois de muito goró e conversa fora, rolou um beijo. Três, quatro, dez, cinqüenta, todos molhados, eu de pau duro, ela se esfregando, deixando eu meter a mão na xavana. Agora, vendo ela sóbrio, percebo que é bem mais gorda do que eu lembrava. Não deixa de ser charmosa e ter um rostinho agradável. Eu como fácil. Ela me mostra o cardápio. Escolho um escalope florentino com maçãs carameladas, aspargos e camarões flambados. Escolho também uma cerveja importada, que elas recomendam. É deliciosa. Sabe, passei duas horas procurando esse restaurante, e tava frio lá fora. É o prédio 95, mas fui dar na rua 95. Não sei já mencionei que sou meio desorientado. Quando subo do metrô por exemplo tenho uma certa dificuldade em saber pra que lado é o norte, o sul, o direito, o esquerdo. Fico zanzando debaixo da terra e na superfície parece que trocaram tudo de lado. Meio freudiano isso. Aí achei e aqui tá tão quentinho, e vocês são tão gente finas, e a comida é tão deliciosa. Me pego tergivesando sobre literatura e indicando escritores e músicos brasileiros. Na hora de pagar, elas dizem que é por conta. Peço outra cerveja e insisto. Posso ao menos pagar o táxi? A gente toma uma saideira na Patagônia. Ela diz que tá de ressaca. Que acordou semi morta hoje. Que precisa dormir. Tudo bem, eu fico sozinho. Mas me dá seu email? Tem uma coisa que você precisa saber sobre mim: adoro ficar sozinho. Sou solitário por natureza, pra eu ser feliz me basta uma cadeira e um livro. Mas tem esses momentos, eles acontecem comigo. Olha, realmente to caindo de sono. Nem uma saideira? Ta bom. Rola um abraço. Beijo. Beijo de novo no rosto, na orelha, beijo toda a cara dela. Eu não queria dormir agora.


Me conta do pileque. Você tava no aeroporto de guarulhos, vindo de Lima, fazendo a última escala pra Xangrilá. Mais de oito horas de vôo, cinco de aeroporto, mais quatro de vôo, mais duas horas nessa porra lotada desse aeroporto de guarulhos, e o avião ainda tá atrasado. Porras fudidas, essas escalas. E ainda to bebendo desde que embarquei. No vôo pra Malásia, foram sete uísques, até a aeromoça dizer que lo bar está cerrado. No Smoking bar de Lima, mais quatro cervejas, numa manha idílica de sexta (?) feira. Na verdade to bebendo desde o dia primeiro de janeiro de 2010. Aliás, antes disso. Entrei na segunda década do século mamando todas. E olha que é quase carnaval de novo. No carnaval do ano passado eu –

Aí entro no bar do aeroporto de dou de cara com quem? Sim, acredite, com o Minotauro tomando uma tulipa de chope devassa escura. Foi uma surpresa e tanto. Tava esperando exatamente o mesmo vôo que eu. Tomo mais um uísque e um chope. Quase que a gente perde o vôo. Que, incrivelmente, tá quase vazio. É ótimo. Maravilhoso. O aeromoço é gente fina, e trás uma lata de cerveja atrás da outra. Uma coisa que lembro que o Minotauro disse foi isso: à dez quilômetros de altura: “Eu sempre tive essa tara, é uma coisa minha, e a gente tava namorando a o que? três meses, e um dia eu disse pra ela: sabe um feitiche que eu tenho? Que você se vestisse de puta e ficasse ali na quinze, e eu passasse de carro e te pegasse e te comesse como se tudo tivesse acontecendo, tipo entrando nos personagens, topa? E ela: beleza. Aí ela chegou lá umas seis da tarde e ficou falando putaria com as putas, de sainha de dez centímetros, e eu só passei dez da noite. Será que tinha feito um programa rapidinho? Eu não ia achar ruim. Depois disso já vi ela dando pra caras na minha frente várias vezes, de vários jeitos, mas nesse dia, por ser a primeira vez, eu tava muito excitado, porque gosto de ficar olhando, e fiquei bicando de longe e passei e ela subiu e falou “é cem reais o programa completo” e eu “da o cu e chupa a rola?” e ela “completo” e eu peguei e comi e no outro dia ela veio me devolver o dinheiro e eu disse “nada disso, esse dinheiro é seu, ora essa, se não quiser joga fora.” Não acredito que ele disse isso. Como assim, gosta de ficar olhando?



“Primeiro: eu também fico carente. Sou um cara sensível. Você sabe disso. Nossa relação é legal. Massa. Não sinto ciúme, mas também não gosto de ficar sozinho. Aí fim de semana volta e meia ela sai pelo Gama, pelo Núcleo Bandeirante, da pra esse e aquele outro carinha, tudo bem, pode dar, mas me leva junto, eu fico sozinho, porra! Não gosto de sair e beber! Quero ficar aqui no meu apartamento – com você – mas você não quer ficar comigo, e isso me deixa puto, não vem me dar bom dia como se tivesse feliz e contente, porque to puto, sozinho e deprimido.” De fato ele raramente bebe, por isso tava tão emocionado. “Cara, eu amo ela. Dou liberdade pra ela -

Peraí. Não to entendendo uma coisa. Pelo que me lembro, isso foi na ida. Ou – agora to aqui dormindo pelado. Primeiro, por que cargas dágua eu to pelado, se durmo num lugar cheio de gente? É deselegante, porra. Em casa sim, no meu quarto, eu durmo pelado, mas aqui? De favor na casa dos outros? Sabe porque tenho certeza que to em Xanadu? Por que ta frio lá fora. Hoje, pela primeira vez, vi neve. Tava ventando forte, e uns pedaços grandes de neve começaram a cair na minha cara. Achei eles coloridos, meio azulados, eletrificados. Tá sentindo esse bem estar? Essa coisa boa?


Ah tá, um pedaço do ácido lisérgico. Tergivesando de novo: “Todo tipo de arte me fascina, música, literatura, arte gráfica, design, o caralho, e depois que eu descobri o cinema – que é uma janela – e a fotografia. Mas no fundo são letras, são símbolos, caracteres –










Eu tava imaginando uma cena, olha:

Uma bela casa no Lago Norte. O maridão chega em casa depois de um dia estressante no escritório. Sua linda e fiel esposa espera-o ao sopé da escada (sic), toda limpinha e cheirosa. Dão uma bitoca.

Esposa – Como foi o trabalho?

Bah

Ta cansado?

To.

Esquentei sua jantinha. Escalopinho e carne seca. Tem cerveja gelada no freezer, do jeito que você gosta.

Ta.

Vai tomar banho primeiro?

Vou comer, to com fome.

Ta bom. Senta ai que eu te sirvo. Olha só que delícia. Amorzinho, posso te pedir uma coisa?

Já to imaginando.

Você sabe que eu te amo tanto, não sabe? Que é o melhor marido do mundo? Que é o amor da minha vida. Você não sabe disso? Que eu te amo muito muito muito pra sempre infinito?

(arrotando) Blrrrrppppp

Eu não faço tudo que o meu amorzinho pede? Então, você podia me fazer aquilozinho... vai...

Porra, agora?

É, vai? Aqui, ó. Vai?

Bah! Toma, sua puta velha!

Dá-lhe uma murranca na cara. A esposa cai no chão gemendo de prazer.

Hun...que delícia... olha, ta sangrando....



Eu gostaria de interromper, posso? Não. Sério. Que parada desagradável.

#eugostodeamor

#DDD
#eugostodeamor



Quando eu nasci quarenta e sete mil duzentos e vinte e um dia atrás a situação política era outra e até as constelações eram outras, era outro universo num outro lugar que não é aqui e não é hoje e nem agora. Nesse meio tempo eu estudei farmacologia e descobri uma porrada de propriedade que tem nas planta, nas flor, nas pedra, em lugares que ce nem pensaria em procurar. Isso me levou depois a estudar engenharia botânica, que é uma ciência pouco conhecida até hoje. A ignorância é coisa que tem muito no mundo e basta olhar pro lado pra dar de cara com ela ou com alguma prima ou mancomunada. Tá dominado por ela, a ignorância. A gente só estuda pra saber que não sabe de nada e olha que estudei muito e fiz universidade no maranhão, doutorado na itália e dei aula na unicamp. Fui professor muitos anos, tive uma alunas maravilhosas. Naqueletempoeu como eu dizia quando eu nasci os elementos da natureza e até minhas células eram outras. A gente era de outra coisa, eu e todosaqueles que nasceram naquela hora. O céu tava daquele jeito, nunca mais as constelações se ajeitaram daquele jeito de novo porque no fundo é aleatório – a gente faz um inventário de regras e de coisas queacontecem segundo certos padrões mas isso é ainda um recorte e pensando bem desprezível. Desprezível e irrelevante, não tem importância nenhuma, éumacoisa cem por cento gratuita, de graça, ó toma procê. Isso depois que estudei o existencialismo. Nessa época que eu nasci a coisa era diferente. Tinha o comunista, o proletário, o intelectual. Tinha umas coisas maravilhosas acontecendo no mundo. Eu era jovem na época dos beatles e dos rolling stones. Estudei não só farmacologia e existencialismo mas também a análise de sistemas, mecânica quântica, li vários best sellers. Tinha uma coisa acontecendo, que era eu: eu tava crescendo e voando pelo mundo como um meteoro desgovernado. Nesse meio tempo eu endoideci e um belo dia der por mim doido, de repente. Percebi que os cara que apresentam o jornal, os entreteiner de televisão, os gerente do banco, os polícia, era tudo uns bossal, umas anta. Percebi que desde o princípio tava tudo literalmente errado e desgovernado. Tinhas umas pessoazinha mesquinha a desprezível que era a rainha da mídia, o imperador da cocada preta. Eu que era bonito e boa lábia e bom de cama volta e meia ficava sozinho, nenhuma mulher queria dar pra mim e eu tinha que ficar batendo punheta. Nenhum aluno entendia o que eu dizia por isso deixei de ser professor. Li o livro lá do estrangeiro e resolvi ser escritor e filósofo e também existencialista só que com restrições. Nunca fui um existencialista ferrenho, tenho minhas críticas. Tinha aquele lema do cara do lsd nos anos 60 PENSE POR SI MESMO E QUESTIONE A AUTORIDADE e isso fazia sentido porque a gente não sabia o tamanho do mundo. Não tinha na equação os chinês nem o câmbio flutuante. Se a gente jogava uma guimba de cigarro no chão ainda não era conivente com as enchente e os alagamento e o aquecimento global. A gente que nasceu quarenta e sete mil dias atrás era outro, era tudo criança. Quandoeucomecei a ler os livro falei: vou ser um filósofo, um pensador, um cara que queima os miolo. Eu era inocente. Eu lia as revista e os jornal, falava no bar de política. Hoje não leio mais, não consigo. Faz quatro mil cento e vinte e poucos dia que não leio, no máximo um panfletinho na hora de dar uma barrigada. Pra que? Agora to estudando o imobilismo. Não corro atrás de nada. Não corro. Nem faço nada. Quando eu nasci quarenta e sete mil dias atrás tinha ditadura, tinha outros planeta, tinha uma pessoa que eu amei mas não quero falar disso agora, isso é uma parada muito desagradável. Sendo completamente sincero eu descobri que era narcisista com sete anos de idade, eu queria que todomundomeamasse. Eu gostodeamor. Meu primeiro sonho foi ser músico, astro do rock. Eu ia no quintal lá de casa e subia no engradado. Era meu palco. Eu cantava pra oitocentas mil pessoas e elas gritavam meu nome e me amavam e eu amava elas de volta. Vamo lá, todo mundo êêê.....êêê e eles repetia êêê....êêê... eu era uma criança que... poisévamostodosentão...

vamostodosentão.


Eu queria ficar com eles. Ficar de bobeira com eles, só conversando, só de bobeira, falando borracha. Eles era tudo escritor. Tudo filósofo. Eu que estudava farmacologia sempre pesquisava sobre os psicotrópico e falava com conhecimento de causa sobre as drogas e os estados alterado da. Prolixo pra caralho, eu pegava e bem cabeça, explicava desde a sinapse até o comportamento anti social e as conseqüência física e espiritual do troço. Fui um dia num centro espírita e entrei numa sala com umas pessoa sensitiva que dava passe. Nunca tinha acreditado nessa merda antes, lembra que eu farmacologista e existencialista e materialista. To eu lá e entra esse cara que era eu, quer dizer não exatamente eu mas uma possibilidade de eu ou uma outra versão de mim. Eu percebi que ele tinha acabado de morrer se bem que nessas coisa não se pode dizer com certeza se o cara apresuntou há mil dias, duzentos mil dias, trezentos mil anos, não dá pra saber qual é o ciclo, qual é a leva, a fornada. Não sei porque eu tinha a intuição que ele tinha morrido faz pouco tempo porque tava todo abilolado, embasbacado, sem entender nada. Ele disse que tava passando pela rua e viu um movimento nessa casa e entrou pra ver o que era e tinha um monte de espírito passando e alguns deles tavam em paz e outros não, ele tava buscando a paz e ao mesmo tempo tava perdido, tava de graça no além, morreu e foi impelido prali e ele não sabia e nem eu sei se a eternidade é uma maldição, se não era melhor morrer e desaparecer mesmo. No outro dia eu tava vendo futebol na televisão e morre um cara de ataque cardíaco em rede nacional. Fui começando a ficar com medo de morrer também, de a morte me tapear em algum lugar, em alguma esquina, quem sabe, quem sabe? Farcamologista, narcisista e fascinado com a morte. Quando eu tinha nove anos escrevi meus primeiros ensaio no tema. Eram frases curtas: a vida é um instrumento da morte, só a morte é uma certeza, a gente só nasce pra morrer. Escrevia essas coisas nas últimas páginas do caderno enquanto devia estar copiando a matéria. Essa intuição só veio depois, mas eu sabia e sabia que não sabia: ninguém ensina nada a ninguém. Professores emburrecem o aluno. Pais desdeducam filhos. O valor moral é só dele.


Quais os princípios fundamental da farmacologia: primeiro, as coisas são feitas de bolinhas, que são os átomos e elétrons. Aí as coisas fica trocando essas bolinhas e fazendo uma porrada de elemento químico e essas parada tem várias propriedade, várias, inumeráveis.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

#sandalinhasdehippie

eu sempre fui feio que nem uma caipora manca e ela a menina mais linda da faculdade, a cocotinha dos sonhos, a minazinha mais cobiçada da galera – os vestidinhos que usava, a tatuagem no pescoço, as sandalinhas de hippie, aquele jeitinho dela, cara, eu sonhava com isso todo dia – e o pior de tudo é que ela era gente boa, uma garota massa mesmo, que dava a maior idéia, curtia arte e sacava tudo de rock psicodélico, não era arrogante só porque era bonita, muito pelo contrário, ela assimilava a beleza dela com naturalidade, era uma coisa leve – e um dia ela tava meio deprimida por causa do namoradinho otário dela e a gente ficou conversando de madrugada até altas horas e tomando um vinho vagabundo e acabou se pegando e o beijo dela era delicioso exatamente do jeito que eu tinha imaginado, a pele macia e quentinha como eu como eu sempre tinha suspeitado, e ela foi tão boa comigo – não rolou sexo nem nada, só uns beijos molhados e um carinho despretensioso na rola – que eu fiquei meio que viajando, meio que num lugar imaginário, num sonho. Ela passou a mão na pela minha cara, nos buracos, nas crateras, fez trancinhas no meu cabelo, estourou uma espinha que eu tinha no ombro e disse que eu tinha uma alma boa, que eu era um ser humano lindo e talentoso, o melhor baixista que ela conhecia. Falou que em tal e tal música da minha banda ela curtia tal e tal arranjo. Falou também que lembrava da primeira vez em que tinha me visto, três anos atrás, num show que eu nem lembrava que tinha feito. E que ouvia sempre no carro o cd que eu tinha gravado pra ela, que achava incrível a disposição das músicas, como eu saía do ragga pro jazz pra afrociberdelia bricando

#diascheirandoodedo

já que tô com 68 anos não fico trepando toda hora por aí, quando eu era moço era assim, trepava de manhã e de tarde e de noite ainda batia punheta, o tempo foi passando e cada vez mais ficando maior o intervalo entre as trepadas. Mas trepo até hoje. Uma vez por mês, a cada quinze dias, varia. O que gosto mesmo, sempre gostei, é de bulinar. Se a moça deitar na cama, abrir as pernas e falar “enfia” eu fico parado com cara de paspalho tentando levantar o procópio. O lance é deitar na cama com a menina e ir bulinando bem devagarzinho. Chupo o peitinho, chupo a bocetinha, o cuzinho, vou fazendo carinho, sentindo o cheiro, deixando ela excitada. Mulher gosta de língua e de dedo. Gosta do procópio também, mas só depois que já estiver bem molhadinha, bem safada. Aí, vendo a menininha excitada, a gente fica empolgado também. Um boquetinho pra azeitar e pimba. 68 anos não são 58. Vou te falar que às vezes nem gozo. Mas fico feliz se fizer a menina gozar. Só de ver ela tremendo, toda louca, gozando, eu fico feliz. Não sei por que deus faz a gente envelhecer. Tinha que ficar jovem sempre, fudendo. Mas já viu. 68 anos. Outra noite fui no motel. Fiquei dias cheirando os dedos