terça-feira, 2 de agosto de 2011

#comerpipoca?

#DDD
#comerpipoca?
toda uma sociologia da pipoca e o lugar que ela ocupa no mundo globalizado, pipocas de todos os tipos, de todos os gostos, de todos os lugares do mundo. Mas o mais fascinante é o próprio fenômeno físico–químico que acontece com as moléculas de hidrogênio e oxigênio que se liequefazem, estouram e ganham aquela textura levemente crespa e irregular da pipoca. Do milho de fazer pipoca em panela, porque essas pipocas de microondas, sabor queijo, bacon, isso aí não é legal. Bom mesmo é a pipoca estourada fresquinha, da panela. Inclusive esse cara, ele fazia algumas experimentações e era um verdadeiro artista da pipoca. Estourava com alho, cebola, tempero completo, tinha dezenas de sabores. Ou ele temperava antes, ainda na panela, ou depois, com uns condimentos que ele mesmo bolava. Vendia também pipoca doce, com coco, morango, nescau e doce de leite. Troço bem feito. Não como aquelas pipocas do cinemark batizadas de manteiga derretida. Esse cara inclusive foi pipoqueiro a vida toda, numa praça no centro de BH, e ao poucos foi crescendo. Tinha uma freguesia imensa. Crianças e adultos de toda a grande BH e até do interior vinham pra comer a pipoca dele, principalmente à tardinha e aos domingos. Ficou rico assim. Não rico milionário, mas tinha casa, carro, viajava direto pra praia, era classe média. Tudo na base da pipoca. Vendia mais de 600 saquinhos por dia, tinha funcionários e vários carrinhos. Era um artesão da pipoca. Mas antes disso eu já comia pipoca desde criança. Sempre fui apaixonado. Boto o sal ali na panela, junto com um fiozinho de óleo, antes de estourar, pro gosto pegar legal. Lembro perfeitamente: sábado, dez da manhã, começava a passar Perdidos no Espaço. E eu já tinha estourado um panelão. Depois Terra de Gigantes, Viagem Ao Fundo do Mar, essas séries todas. No sábado minha mãe deixava eu ficar sem almoçar, só comendo pipoca o dia todo. Só no sábado. Era o dia mais feliz da minha infância. Durante a semana eu comia uma pipoquinha aqui, outra ali, mas era no sábado que eu me esbaldava e comia pipoca até passar mal. Mas o milho da pipoca, de certa forma, é uma metáfora. É um grão que tá grávido. É o invólucro material que envolve em seu interior a libertação de algo único – toda pipoca é única, como toda nuvem, não traz a simplicidade quase militar e uniforme da batata frita – ainda mais essas que são feitas já do purê da batata transgênica, todas idênticas, sem nenhuma personalidade. Além de toda uma sociologia, a pipoca encerra em seu núcleo misterioso também uma metafísica

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